Politicamente Correto.

11 de setembro de 2013

Já cansei de pensar, pensar e pensar. Até para abrir a boca para assobiar eu tenho que ter cuidado com o que assobio. A moda da vez é o politicamente correto. Não se pode fazer ou falar mais nada que alguém se sentirá ofendido. Se a novela da Globo coloca a imagem de um médico que supostamente não existe na realidade, imediatamente sofre retaliações da classe de médicos. Se um comediante solta a frase "comeria ela e o bebê" no tom claro de piada, é logo taxado de escroto inescrupuloso e ainda por cima maníaco. Se o grupo Portadosfundos coloca um vídeo no Youtube sobre Jesus, logo aparecem os religiosos fanáticos exigindo sua retirada. São tantos exemplos que a lista seria muito longa e não faltaria assunto puxando assunto. É fácil esquecer que o primeiro caso se trata de uma estória (narrativa de FICÇÃO), que se não agrada basta parar de assistir, no segundo e terceiro casos trata-se de humor escrachado (foi sem graça os dois, assumo, mas ainda é humor para alguns e respeito isso). Claro que não estou colocando o humor e as estórias acima da moral e da ética, deixando ambos sem qualquer limite, mas o que tem de se levar em consideração é o "dolo" da situação.
O politicamente correto vem se impregnando não somente na linguagem, obviamente, mas lembro como se fosse hoje o dia em que li que chamar alguém de preto, negro, moreninho e outras tantas denominações era errado e que o correto seria afrodescendente. Até a palavra afrodescendente usada de forma pejorativa pode ofender. A linha que divide a ofensa do uso comum (que um dia foi impregnado pelo racismo histórico, mas que hoje não tem a mesma conotação em todos os casos) é muito tênue. Chegar para um amigo e falar "tudo bem, viado?" não é a mesma coisa de falar "você é viado" ou que dizer "oi, meu gordo" não é a mesma coisa de "seu gordo". Óbvio que não estou falando que reafirmar ou reforçar estereótipos preconceituosos seja saudável para a sociedade, mas ao se impedir de expressar sobre o assunto, nas mais diversas formas, escrachada ou sutil (acreditem, o sutil é pior), acaba trazendo uma delicadeza desnecessária. Falar de assuntos delicados se torna ainda mais delicado quando começamos a apontar vítimas para tudo ao invés de tratarmos o assunto com serenidade e respeito principalmente, tanto às minorias quanto as maiorias, ambas pensantes.
Se ler Monteiro Lobato me fizesse uma pessoa pior ou melhor, com certeza não seria pelo o que li, e sim a forma como interpretei o que foi lido, e não adianta trazer uma cartilha informando qual é a interpretação correta a ser feita.
O discurso do politicamente correto é típico das minorias, mas não exclusivo, e tornar-se minoria oprimida agora é vantajoso, vide o caso da pessoa que resolveu se fingir de índio para garantir algumas benesses.
A vanguarda do politicamente correto nunca descansa, é preciso ter cuidado até com o que pensamos mas não exprimimos. Se continuar do jeito que vai, acabaremos censurando até princípio de pensamento. De que adianta podar o pensar, se continuamos sendo manipulados pelo não agir?

O Lapso

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